quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Elegia dos Ratos




oh, enluarada profunda noite, lamentos resguardas!
cravejada negra seda de vivos murmúrios,
de nós; em lívidas livres lágrimas ao prol de augúrios,
te fazes vaidosa, em ares de materno afago,
e eu, só, a esperar uma eternidade, - me fardas!
a proferir, co' uma ingênua morta estrela, o que lhe indago;

[do cigarro, sob a torre do relógio, um trago,
e por abaixo urbanas luzes, da fumaça dispersas se esquecem...]

tantas dessas, quantas mais me vou em aguardo?
- água arde, do olhar, mas não cura!
a protelar-me, será que tardo,
até o vindouro findar de minha merencória lisura?
quão será, que suporto o pesar de meu fardo?

telhados caminho, sozinho, de mim distante,
marotos passos, de um malandro estranho, sem prezar,
por seguro, dentre males tantos, sem prantos, firmar,
um alguém, sem ninguém, de vagar desconfiante,
um ir-e-vir que conflitante, me sugere risonho, desistir,
de meu ingênuo, e tão inseguro singelo existir,
sem anjos aos quais, possa eu, veemente, vez sequer rezar;

em universos de fatos, mais inversos acatos, que adentrei,
um sentir-se minúsculo, detenho, perante à vontade,
frágil, quão sou!... ao perceber-me, vago, relutante,
sem algo fazer, atado em sem saberes, nó sem verdade,
deveras, um ser, assim dito, solitário, no montante
decorrido, de anos, e sem nada comigo, à posteridade...
tão simplório, pacato, desarmado, à minha elegia que não sei.





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