segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Paraty indo


Quero falar dos grandes ventos que aqui alçam vôo
Quero falar das colinas que aqui formam a Atlântica dos seres
Quero falar das gotas de índigo toque, do azul profundo e liso do mirante mar
Quero falar dos assobios das andorinhas, as mentoras do nascer solar
Quero falar entre as quatro igrejas esquecidas, sob aspecto de sociedade antiga
Quero falar sob as tortuosas veias, das ruas arcadas, da proteção histórica
Quero falar dos contos que ouvi, aqui dos invisíveis e presentes aromas

Quero falar de Paraty, daqui poder gritar e ouvir

Quero falar dos marasmos encantados, dos entraves espiralados esquecidos
Quero falar dos cadentes raios, dos iluminados seres da floresta densa
Quero falar dos anfiteatros paralelos, das esquinas movimentadas e abandonadas
Quero falar das correntes e sobre todos os acorrentados e impulsionados entes
Quero falar da superficialidade das decisões que mantêm Paraty viva
Quero falar da onipresença, da inesperada chuva em plena fanfarra turística
Quero falar dos frustados que aqui se acobertam esperando por calor veraneio

Quero falar dos apogeus e de todos os atravancados veios do ouro roubado
Quero falar dos escravos, libertos por Deus e aprisionados por brancos, Juruás
Quero falar do novo tempo bloqueado, do prazer enjaulado de um gosto atômico
Quero falar da inacessibilidade da educação e de todas as exigências formais
Quero falar do regionalismo autoritário e de todas as suas disfunções legais
Quero falar dos adeptos ao vento mensageiro, pessoas terrais e assuntos difusos
Quero falar das rodovias e de todos os seus buracos atrativos, de sua massa perigosa
Quero falar da verdade, e em Paraty não se pode dizer, a não ser, o poetar do sigilo

Quero falar das beatas e das colunas centrais de uma localização distinta
Quero falar das missas e de todos os encontros desencontrados dos nativos
Quero falar dos omissos e dos lascivos, dos catedráticos que daqui se foram
Quero falar dos rastros atômicos, sem medo de repetir, o que se pode repetir e estragar
Quero falar dos anestesiados pela a grana nuclear, dos projetos falsos de humanidade
Quero falar dos efêmeros impulsos de uma sociedade aprendiz, de um cetro e seu relento
Quero falar dos assassinatos, dos inatos, dos ingratos e dos que fazem sigilo a dor pura

Quero falar da crescente onda, das tsunamis para as matas verdes locais
Quero falar do abandono dos animais, dos genocídios astrais, da cultura assassina
Quero falar das doenças e das epidemias, dos assolados e dos sofredores
Quero falar da anestesia povoadora, das mares baixas, dos vazios tonéis
Quero falar dos desencantos dos lagartos e dos muros edificados a caminho
Quero falar das cavernas do ser nativo, do real adepto da noosfera

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